1. Considerações gerais
De acordo com o Comitê de Nomenclaturas da Federação Internacional de Ginecologia e
Obstetrícia, o climatério é a fase durante sua vida que a mulher passa
do estágio reprodutivo para o não reprodutivo. Essa fase é caracterizada pelos sinais
designados "sintomas do climatério". Pré-menopausa é o
período que precede a menopausa propriamente dita, caracterizada por um ciclo menstrual
irregular e o aparecimento de alguns sinais e sintomas da menopausa. A menopausa é
caracterizada pela última menstruação, ou seja, a partir daquela data a mulher passa
para o período não reprodutivo, que ocorre durante o climatério. Pós-menopausa,
período que se inicia após a menopausa, entretanto, não se pode determinar o período
exato do início dessa fase.
Há dois tipos de menopausa, classificadas de acordo com a causa.
1. Menopausa fisiológica: durante o período embrionário a oogêneses
começa no ovário por volta da terceira semana de gestação. É estimado que nos
ovários do feto haja cerca de 7 milhões de oogônias na 20ª semana de gestação e,
depois do sétimo mês de gestação não são mais formados novos oócitos. Ao nascer
eles são, aproximadamente, 2 milhões de oócitos e, até a puberdade são reduzidos à
300.000. E somente cerca de 400 - 500 vão sofrer maturação durante o período
reprodutivo da mulher.
A menopausa, aparentemente, acorre na mulher por dois processos. Primeiro, os oócitos que
responde às gonadotrofinas desaparecem do ovário e, segundo, as poucas que sobram não
respondem ao estímulo das gonadotrofinas.
Não parece haver relação entre a menarca e o início da menopausa. Casamento,
gravidezes, altura, peso e uso prolongado de contraceptivos orais também não parecem Ter
relação com a idade da menopausa. Entretanto, fumar está associado à menopausa
precoce.
Cessação espontânea da menstruação antes dos 40 anos é chamada de menopausa
prematura ou falência prematura ovariana, as razões dessa falência prematura são
desconhecidas. Processos infecciosos do trato reprodutivo podem causar dano nas estruturas
foliculares precipitando, assim, a menopausa. Exposição à radiações ionizantes, assim
como, algumas drogas também podem levar a uma menopausa precoce.
2. Menopausa artificial: é a cessação permanente da função ovariana
pela remoção cirúrgica dos ovários ou pela radioterapia. Geralmente é ocasionada pelo
tratamento de patologias intrabdominais como tumores ovarianos, endometrioses e outros.
2. Alterações neuroendócrinas do climatério
As duas maiores funções do ovário, endócrina e gametogênica, são reguladas por
impulsos oriundos do eixo hipotálamo-hipófise-ovário. O cérebro participa da função
reprodutivo através da liberação, pelo hipotálamo, de GnRH, que é liberado de forma
pulsátil, assim como as gonadotrofinas hipofisárias.
Durante o período neonatal e fase pré-púbere, a secreção de FSH é maior que a do LH,
e o padrão pulsátil está ausente. Na puberdade, a secreção de LH aumenta durante o
sono, com característica pulsátil até a fase puberal e iniciar o padrão secretório do
adulto, onde temos níveis mais elevados de LH que FSH. Nessa fase a liberação é
pulsátil, enquanto que, no período pós-menopausa a pulsatilidade cessa e ambas as
gonadotrofinas se elevam
Fatores que interferem na secreção de GnRH:
a) Ovariano: os esteróides ovarianos podem aumentar ou diminuir a
sensibilidade hipofisária ao decapeptídio. O feedback negativo dos esteróides sexuais
é exercido ao nível hipotalâmico e hipofisário. Já o feedback positivo há claras
evidências de que o pico pré-ovulatórios das gonadotrofinas é provocado por um aumento
nos níveis de estradiol circulantes.
b) Hipofisário: os efeitos fisiológicos diretos do LH e FSH sobre os
sistema neuronal GnRH ainda não estão bem estabelecidos. Entre outros hormônios
hipofisários, a prolactina (PRL) é secretada episodicamente e com variações
circadianas.
c) Hipotalâmico: a auto-regulação hipotalâmica deve-se a contatos,
provavelmente, sinápticos entre neurônios GnRH, tidos como substratos anatômicos, e a
interação do GnRH com seus próprios neurônios. Entretanto, suas exatas interações
continuam indefinidos.
Existe um grande números de neurotransmissores, ou neuromoduladores, envolvidos no
controle neuroendócrino da secreção de GnRH. Embora muitas substâncias endógenas
influenciem na secreção de gonadotrofinas, os mensageiros cerebrais, mais conhecidos
como estimuladores ou inibidores da liberação de GnRH, in vivo e in vitro, para
circulação porta são, entre outros: a) Estimuladores: noradrenalina, epinefrina,
serotonina, acetilcolina, ácido gama-aminobutírico, prostaglandina E2, dopamina. b )
Inibidores: ocitocina, Hormônio liberador de FSH/LH (GnRH), peptídios opióides,
dopamina, prolactina.
- Regulação dopaminérgica: o sistema dopaminérgico ativado tem efeito inibitório sobre os
níveis circulantes de gonadotrofinas e prolactina. Há evidências da existência de uma
molécula inibitória de dopamina que seria um PIF (fator inibidor da prolactina), que
seria secretada diretamente no sangue portal. Além de Ter efeito inibidor sobre a
secreção de GnRH nos núcleos arqueados.
- Regulação noradrenérgica: exerce um efeito excitatórios sobre os neurônios GnRH,
provavelmente modulando a freqüência de descarga de GnRH.
- Regulação exercida pelas
endorfinas: os opióides endógenos exercem efeito
estimulador sobre a produção de hormônio de crescimento, prolactina e ACTH. Além de
inibir a produção de FSH, LH e TSH. Participam na regulação do padrão pulsátil de
GnRH (ação inibitória), aumentam a prolactina, por inibirem o sistema dopaminérgico.
2.1. Neurotransmissores e climatério
Para melhor compreensão do comportamento dos neurotransmissores na mulher climatérica,
deve-se ter em mente que existe uma interação bastante dinâmica entre os
neurotransmissores, enzimas de conversão, enzimas de síntese e degradação dessas
substâncias, associado a uma interação com esteróides sexuais, caracterizados pela
deficiência estrogênica.
Nos últimos tempos tem aumentado os conhecimentos entre os efeitos da idade e a
deficiência de neurotransmissores, seja através das enzimas envolvidas
(tirosina0hidroxilase, MAO e COMT), seja por ação direta sobre os neurotransmissores.
Opióides: interferem no sistema dopaminérgico, diminuindo o estoque o
turnover de dopamina, modulando assim a secreção de LH e FSH. Sendo sua principal
conseqüência os opiódes endógenos (b-endorfinas) estarem baixos na menopausa.
Catecolesterogênicos: há relatos de uma interação entre endorfinas e
catecolesterôgenicos. A ligação foi demonstrada pela administração de morfina em
ratos, que diminui a atividade da enzima estógeno-2-hidroxilase responsável pela
formação de catecolesterogênios. A concomitante diminuição de estrogênios e
catecolesterogênios na menopausa pode alterar a síntese ou o metabolismo das
catecolaminas, resultando um aumento no nível de LH e distúrbios de termorregulação.
Dopamina, noradrenalina, serotonina: após a castração, a
concentração de dopamina no hipotálamo é menor e a noradrenalina é maior. As
atividades da MAO e da COMT estão aumentadas e o reaproveitamento das catecolaminas está
diminuído em função da idade já que os estrogênios tem uma ação inibitória sobre a
MAO. Assim, a presença de estrogênios aumenta os níveis de neurotransmissores,
melhorando os efeitos das alterações nos padrões de secreção.
3. Fisiologia
No climatério há uma progressiva diminuição do patrimônio folicular e aumento dos
ciclos anovulatórios, como conseqüência insuficiência lútea. Há, também,
diminuição de esteroidogênese ovariana e assim ocorre alteração da retração
hipotálamo-hipófise. Além da diminuição do número de folículos, tornam-se
refratários à ação das gonadotrofinas.
As células do estroma ovariano não possuem enzimas para aromatizar o anel (A) dos
androgênios e convertê-los em estrogênios. A andronestediona se converte em estrogênio
na periferia, principalmente no tecido adiposo, cuja capacidade de conversão aumenta com
menopausa, por razões não muito bem conhecidas.
Na gênese do climatério deve-se considerar também o envelhecimento. Comparando-se a
puberdade, no climatério ocorre o fenômeno inverso: tanto os ovários apresentam pouco
receptores à gonadotrofina como o sistema hipotalâmico-hipofisário apresentam poucos
receptores de estrogênio, como observado pelos altos níveis de gonadotrofinas na
presença de níveis normais de estrogênios.
O GnRH (hormônio liberador de gonadotrofinas) tem seus níveis mais elevados nas mulheres
monopausadas. O FSH, LH, estrogênios e androgênios vários anos antes da menopausa
ocorrem alterações nos níveis circulantes de hormônios, e o fazem durante o período
dos ciclos ovulatórios normais. Desta maneira, os ovários tornam-se menos responsivos
às gonadotrofinas, antes de cessarem as menstruações, podendo ser o evento
desencadeante da menopausa.
A decadência da atividade folicular e seu esgotamento são os eventos-chaves das
alterações ocorridas no período perimenopausa. O decréscimo na produção de estradiol
pelos ovários elimina o feedback negativo dos estrogênios no sistema
hipotálo-hipófise. Isto pode resultar num gradual aumento de gonadotrofinas, com o FSH
elevando-se precocemente a níveis mais altos que os de LH.
4. TRH: utilização, riscos e contra-indicações
As principais contra-indicações à terapêutica estrogênica (hepatopatias atuais,
tromboembolismo, anemia falciforme, hipertensão arterial, doenças cardiovasculares,
diabetes mellitus, epilepsia, cefaléia ou enxaqueca, porfiria, câncer de mama, câncer
de endométrio e tabagismo) e a progestogênica (hepatopatias e tromboembolismo), seguidas
com tanto rigor há alguns anos, estão cada vez mais abandonadas com a individualização
das pacientes e a utilização de critérios rígidos na monitorização das
terapêuticas.
Em tumores como nos miomas pode-se fazer a TRH, contudo, prefere-se nesses casos uma
associação hormonal com predomínio de progestágenos. No carcinoma de endométrio, os
estrogênios podem ser utilizados nas pacientes tratadas com sucesso nos estágios I e II.
Nesses casos deve-se associar pequena doses de progestogênicos, pois adição dos mesmos
na TRH reduz a atividade mitótica induzida pelos estrogênios.
Os progestogênicos têm indicação nas formas avançadas inoperáveis e metastáticas.
Utiliza-se, principalmente, nos estágios III e IV, linfonodos comprometidos, citologia
positiva e omento infiltrado.
Na hipertensão arterial, doenças cardiovasculares, cardiopatias e nas mulheres idosas em
pequenas doses e com monitorização adequada, a TRH pode ser utilizada com muito poucas
contra-indicações. Sendo o ponto de discussão a utilização da TRH nas hepatopatias
agudas e na vigência de fenômenos tromboembólicos.
Há inúmeras evidências de os hormônios femininos atuam sobre o sistema cardiovascular,
sendo particularmente importantes as ações sobre a vasomotricidade arterial. Tal ação
ocorre através da presença de receptores específicos presentes nas células musculares
lisas e, indiretamente, por ação sobre os canais cálcio dessas células. A modulação
da vasomotricidade também está relacionada à estimulação exercida pelos estrogênios
sobre as plaquetas. Portanto, as condições de hipoestrogênicas podem aumentar a
resistência vascular por vasoconstrição.
Os hormônios femininos atual também sobre o metabolismo lipídico, com implicação
sobre aterogênese e sobre a evolução da doença ateroesclerótica. Os estrogênios são
potentes estimuladores da síntese de receptores celulares específicos para as
lipoproteínas de baixa densidade (LDL) e inibidores da atividade da lipase lipoproteíca
hepática, facilitando a maior síntese de lipoproteínas de alta densidade (HDL). Ambas
as ações são antiaterogênicas, pois maior número de receptores para LDL resulta na
redução da concentração plasmática dessa fração e valores elevados de HDL
significam maior transporte de colesterol da parede das artérias para o fígado
(transporte reverso de colesterol).
Sendo evidente a alta prevalência de doenças cardiovasculares na pós-menopausa,
principalmente da doença arterial coronária, com elevada mortalidade e, desde que não
haja contra-indicações absolutas, do ponto de vista cardiológico, a TRH deve ser
considerada como objetivo de prevenção primária e secundária das cardiovasculares.
Causam grande perturbação as alterações de peso e as tendências a obesidade
apresentadas pelas mulheres no climatério. Insere-se nesse contexto os cuidados
alimentares e as medidas complementares (estilo de vida, exercício físico), além do
que, preocupam as alterações metabólicas decorrentes da obesidade como :
a) resistência adquirida à ação da insulina sobre a utilização da glicose pela
células musculares e adiposas (hiperinsulinismo compensatório).
b) a hipercolesterolemia decorrente do hiperinsulinismo.
c) A hipercolesterolemia em grau proporcional ao grau de adiposidade.
Na pós-menopausa, há uma progressiva redução da massa corporal magra e aumento da
massa gordurosa, hoje sabidamente decorrente da depleção hormonal. Ao mesmo tempo,
desaparece a ação onduladora dos estrógenos na distribuição da gordura no típico
padrão feminino. A TRH previne o incremento da massa gordurosa na pós-menopausa e
promove a distribuição ginecóide da gordura sem, entretanto, acarretar ganho de peso
adicional (com exceção de 1000 a 1500g devido a reidratação tecidual induzida pela
reposição hormonal inicial em alguns casos).
BIBLIOGRAFIA
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Revista de atualização em ginecologia e obstetrícia - RBM/GO.
Vol. VII, n.º. 5, 1996.
2. IANNETTA, O.; QUINTANA, S. M.; DUCATTI, G. B.; RESENER, E.
V.;BREGIEIRO, L. O. R. Alterações neuroendócrinas no climatério.
GO Atual. Rio de Janeiro, n. 1 / 2, p. 25-33, Jan./Fev., 1997.
3. CURRENT. Obstetric and gynecologic diagnosis and treatment.
Norwalk, Connecticut. Cap. 57, p. 1030-50. 8ª edition, Ed. Appleton
and Lange, 1994.
- Ana Paula Diefenbach
- é acadêmica finalista de Medicina
- e atualmente ex-bolsista
- do grupo PET-Medicina.