Circulações Especiais

 

Veremos aqui algumas circulações especiais das quais nós vimos no seminário a circulação coronária. Aqui temos um slide que mostra a distribuição do débito cardíaco entre os vários órgãos, lembrando que o rim leva o maior percentual desse débito (esse slide , juntamente com um slide de uma tabela com valores numéricos, mostra ao mesmo tempo a quantidade se sangue que passa por órgão qualquer (cérebro, coração, tubo digestivo, rim, músculos, pele), mostrando ao mesmo tempo quantidade de oxigênio que esse órgão extrai do sangue. Se eu pegar uma amostra de sangue arterial, ele terá em cada 100ml, 20ml de O2 puro (em 100ml de sangue temos 16g de hemoglobina. Cada grama puro de hemoglobina transporta 1,34ml de O2 –> 16 x 1,34 é , aproximadamente 20 volumes por cento).

Lembrando que uns órgãos extraem mais O2, outros, menos (por exemplo, nas coronárias o fluxo é pequeno em relação à outros órgãos, mas a extração do oxigênio é bem feita), a extração geral, global é aproximadamente 5ml de O2 por cada 100ml de sangue, ou 50ml por litro de sangue, isto é, o sangue que antes de passar pelos capilares dos tecidos tinha 20ml (saturação hemoglobínica de 97%), fica com 15ml (saturação hemoglobínica de 75%). Assim, em condições normais, 5ml de oxigênio são transportados para os tecidos em cada 100ml de sangue. Sendo o débito cardíaco 5000ml/min, se cada 100ml liberam 5ml de O2, 5000ml vão transportar 250ml de O2 por minuto para os tecidos. Essa é a quantidade mínima de consumo de O2 de um indivíduo normal (ele mostra um slide com a distribuição do oxigênio entre os tecidos). Nos tecidos, quanto maior a atividade, maior o uso e, consequentemente maior a extração de O2, é o caso dos músculos esqueléticos. Existem tecidos que recebem um fluxo sempre contínuo de sangue. Quando esses tecidos precisam de mais oxigênio, eles simplesmente aumentam a sua capacidade de extração. Outros tecidos têm a capacidade de aumentar o fluxo de sangue quando necessitam de mais O2.

As artérias de grande calibre, como a aorta, não têm poder de constricção só de relaxamento e de amortecimento. À medida que as artérias vão chegando perto da periferia, elas vão perdendo o tecido elástico e ganhando músculo liso. A pressão nos capilares, então, terão valores de pressão diastólica e sistólica bem parecidos, se não iguais, devido a esse amortecimento por parte das artérias de grande calibre. Perto dos capilares temos também os esfíncteres arteriolares que recebem influência do SNA e de algumas substâncias como a adrenalina, liberada pela medula adrenal, ou até mesmo por drogas farmacológicas. Chegando ao capilares propriamente ditos, a camada de músculo liso desaparece, permanecendo uma única camada endotelial.

Na circulação pulmonar, a quantidade de sangue que circula é também de aproximadamente 5L/min. A volemia da circulação pulmonar é de cerca de 900ml. A circulação pulmonar tem algumas diferenças em relação à circulação sistêmica. O controle do SNA sobre a resistência da circulação pulmonar é muito pequena. Os nervos simpáticos e parassimpáticos têm efeito de constricção e dilatação desprezíveis do ponte de vista prático. A pressão capilar pulmonar é muito baixa. Diferença de Pressão = Fluxo x Resistência. Então, para calcular a resistência da circulação pulmonar, divide-se a diferença de pressão (pressão de entrada no pulmão menos a pressão de saída do mesmo) pelo fluxo (que é o mesmo valor do débito cardíaco – 5L/min). Fica, então:

R=(Pressão de entrada – Pressão de saída)/Fluxo
R=(Pressão da artéria pulmonar – Pressão do átrio esquerdo)/Fluxo
Fazendo o cálculo da pressão arterial pulmonar média, onde a pressão sistólica é 25 e a diastólica é 8, teremos o valor de 14, aproximadamente. que colocando em números fica:
Resistência pulmonar =(14-5)/5000 = 9/5000

Na circulação sistêmica temos:
R=(Pressão de entrada – Pressão de saída)/Fluxo
R=(Pressão da Aorta – Pressão do átrio direito)/Fluxo
Fazendo o cálculo da pressão arterial média, onde a pressão sistólica é 120 e a diastólica é 80, teremos o valor de 90;
R=(90 – 0)/5000 = 90/5000

Com todos esses cálculos, conclui-se que a resistência sistêmica é 10 vezes maior que a resistência da circulação pulmonar, indicando que a circulação pulmonar é um sistema de baixa pressão e baixa resistência.

Drogas: a histamina, serotonina e a 5-ht são vaso constrictoras a nível pulmonar, enquanto na periferia a histamina é vasodilatadora.

Circulação cerebral: Como a circulação cerebral encontra-se fechada dentro de uma caixa (caixa craniana), qualquer aumento de pressão causado por edema ou hemorragia pode vir a afetá-la. O traumatismo craniano (que ocorre freqüentemente em acidentes de carro), causa , amiúde (bora Brunão!), problemas desse tipo. A pressão na caixa craniana pode comprometer, através da compressão do tronco cerebral (ou da falta de circulação sangüínea no bulbo), o controle da pressão arterial e da respiração. A reação de Cushing ocorre quando a pressão intracraniana fica maior que a pressão arterial, impedindo o influxo de sangue no cérebro. Esse processo desencadeia uma resposta à isquemia do SNC, que eleva a pressão arterial, fazendo com que o sangue posse novamente chegar ao cérebro, aliviando a isquemia.

Três fatores influem o fluxo de sangue no cérebro: (1) concentração de CO2, (2) concentração do íon H+ e (3) concentração do O2. O fator que mais importa é a concentração de CO2 (em conjunto com a de H+ , pois o CO2 é transportado em forma de H+ + HCO2-) . Quando a concentração de CO2 aumenta em demasia, há um estímulo para que o fluxo sangüíneo cerebral aumenta para que o CO2 aumentado seja eliminado com mais velocidade, juntamente com os íons H+. Na verdade qualquer substância ácida (como ácido láctico ou o ác. Pirúvico) causa essa vasodilatação dos vasos sangüíneos cerebrais. No caso do O2, é a sua falta que causa a vaso dilatação dos vasos. O mecanismo de regulação do calibre dos vasos a partir da concentração do O2 é o mesmo que ocorre nas artérias coronárias e em vários outros tecidos corporais.

(ele disse que essa parte é só por curiosidade...)As artérias cerebrais têm inervação vasoconstrictora e relaxante. Hoje em dia sabe-se que a estimulação simpática cerebral pode ser ativada de modo forte o bastante para causar constricção nas artérias cerebrais. Quando a pressão arterial sobe demasiadamente esse sistema de controle do simpático pode constringir as artérias cerebrais de médio e grande calibre para que a pressão não seja repassada aos vasos menores. Esse mecanismo pode ser utilizado para impedir o derrame cerebral nume atividade física extenuante, por exemplo.

Circulação do músculo esquelético: Temos aí mecanismos vasodilatadores e vasoconstrictores neurais. A norepinefrina tem ação vasoconstrictora sobre os vasos sangüíneos dos músculos esqueléticos (sobre seus receptores alfa), enquanto a adrenalina em efeito bem mais forte de vasodilatação sobre os mesmos (receptores beta). O músculo também tem aquele mecanismo de controle intrínseco pela falta de O2, adenosina, que é um dos mais importantes.

Circulação na pele: Muito semelhante ao músculo esquelético, é influenciada pelo SNA. Vasoconstricção com estimulação simpática (receptores alfa) e a estimulação parassimpática quase não tem efeitos sobre a maioria dos vasos sangüíneos, exceto em certas áreas como a da face (pessoa fica vermelha com vergonha). Na palma de nossa mão, na pele, temos uma circulação especial, que chamamos de curto-circuito artério-venoso. Em alguns animais polares esse circuito se encontra extremamente desenvolvido, pois eles têm os membros muito cumpridos passíveis de perda rápida de calor através desse membros. Acontece com algumas aves. Elas fazem um mecanismo chamado de contracorrente funcionar. Esse mecanismo constringe os vasos desses membros ao máximo, garantindo apenas um fluxo mínimo.

Circulação fetal: O sangue vem da placenta através da veia umbilical, passa pelo fígado, temos o chamado ducto venoso, que vai para a veia cava inferior. Quando chega ao átrio direito, uma pequena parte do sangue passa para o ventrículo esquerdo, e a maior parte passa diretamente para o ventrículo esquerdo pelo forame oval. Aqui temos uma outra comunicação, que é da artéria pulmonar com a artéria aorta, o chamado ducto arterioso. Portanto temos três comunicações que existem no feto e que desaparecem no adulto: ducto venoso, o canal arterial (ducto arterioso) e o forame oval. Existem uma ordem com que essas três comunicações se desfazem (ele disse que não precisa decorar, mas é tão facinho que não custa nada). Primeiro fecha-se o forame oval, depois o canal arterial e, finalmente, o ducto venoso. O que é também interessante? Não há comunicação do sangue do feto com o sangue da mãe. Aqui temos a artéria e veia uterina... )ele explica como é que ocorre a difusão do oxigênio da mãe para o feto, mas não dá para entender tudo...): dois vasos ficam sobrepostos, um da mãe e outro do feto, possibilitando assim, a troca de nutrientes e excretas entre os dois, mas não há contato direto entre os dois vasos. Então como o O2 do sangue arterial da artéria umbilical da mãe tem pressão parcial maior, o O2 passa de um vaso a outro. Isso tudo é por difusão. Se algo comprometer a difusão, o suprimento de O2 ao feto estará também debilitado. Também existem outros processos que vimos em bioquímica como a diferença entre a afinidade da hemoglobina fetal e hemoglobina materna... Concluindo, a passagem de nutrientes da mãe para o feto é por contiguidade, nunca por continuidade.

Eu gostaria (Carlos Peres falando) agora de salientar alguns pontos que eu acho importantes e que na maioria das vezes eu pergunto : Qual seria a resposta que eu teria num indivíduo que está deitado e levanta rapidamente? Resposta da pressão arterial. Quando eu estou deitado, lembrem-se, toda a minha coluna de sangue está num mesmo nível, o retorno venoso vai ter um valor e o débito cardíaco também. Quando eu levando, eu vou Ter um acúmulo de sangue nas veias dos membros inferiores devido à gravidade. Esse acúmulo vai produzir duas respostas: uma a queda de pressão, outra uma vasoconstricção local (nos membros inferiores). Também ocorre um aumento da freqüência cardíaca que leva a um aumento de pressão, seguido de normalização. Pessoas que tem problemas com o simpático, por exemplo, pessoas que tomam ou tomaram drogas, como anestésicos, betabloqueadores, a resposta feita pelo sistema pressoreceptor vai estar comprometido. Então essas pessoas devem ser alertadas para levantarem lentamente.