Continuação do tópico Circulação no sangue

 

No caso de hormônios esteróides e os que são derivados da tireóide um maior percentual das moléculas está ligado à proteína transportadora, exatamente porque são lipossolúveis (sabe-se que moléculas lipossolúveis para serem circularem no sangue precisam de proteínas transportadoras). Fica fácil deduzir que com os hormônios hidrossolúveis acontece o contrário, ou seja, existem mais moléculas livres do que unidas à proteína.
Quando esses hormônios chegam aos capilares do tecido onde há os receptores nos quais atuam essa ligação se desfaz e o hormônio fica livre para atuar. Como já foi dito nem todas as moléculas dos hormônios estão ligadas à proteína e à essa parte das moléculas não-ligadas denominamos de "parte livre". Essa parte livre é muito importante já que é a parte biologicamente ativa além de ser a que pode sofrer controle por mecanismos de regulação.
A "parte ligada" à proteína pode inclusive ser considerada como um armazenamento de hormônio no próprio sangue pois quando ligado ele não é funcional. Essa ligação também pode ser considerada uma forma de proteger o hormônio da degradação enzimática o que lhe confere meia-vida relativamente longa. Novamente deduz-se o contrário para os hidrossolúveis, os quais têm meia-vida curta.

Regulação da secreção hormonal

Esses mecanismos são de regulação da secreção e não de regulação da concentração, como se poderia pensar, o que significa que eles atuam na glândula ou célula que produz o hormônio, ou seja, que secreta o hormônio, sendo a secreção o conjunto dos processos de síntese e liberação.
Existem três fatores de variação da concentração hormonal livre no plasma : a produção do hormônio pela célula, a quantidade proteínas captadoras e o metabolismo, que inclui a captação pela célula alvo e a degradação enzimática. Desses fatores o que se tem condições de regular é a produção e secreção do hormônio pela glândula porque a concentração de proteínas num organismo em condições normais não varia. O metabolismo também é praticamente constante. Em estados especiais a concentração de proteína pode variar como por exemplo a gravidez. Na gravidez há um maior estímulo no fígado da produção de globulina. Percebe-se então que, em uma mulher grávida, os hormônios derivados da tireóide, por exemplo, estão em maior quantidade no total (parte livre + parte ligada). A quantidade de hormônios ligados à proteína é maior porque a quantidade desta está aumentada e, como há uma necessidade de manter a concentração de hormônio livre constante, a secreção de hormônio aumenta o que faz com que a concentração total aumente.
É necessário antes de estudar propriamente os mecanismos de regulação um estudo uma definição de secreção basal e secreção estimulada :

Secreção basal: secreção de um organismo em repouso.
Secreção estimulada: secreção aumentada em relação à basal devido à um estímulo.

Conhece-se pouquíssimo acerca do mecanismo da secreção basal, mas sabe-se que sua regulação é neuroendócrina tomando-se como exemplo a secreção dos hormônios da adeno-hipófise que dependem dos hormônios do hipotálamo. Na regulação neuroendócrina o sistema nervoso determina a secreção basal.
Em relação à secreção estimulada existem diferentes tipos de acordo com o que se estuda. Esse estímulo pode ser metabolismo circulante (íon, substância metabólica) ou um hormônio trófico. Hormônio trófico é aquele que atua estimulando certa estrutura determinando seu volume, peso e consequentemente sua atividade. São hormônios tróficos, por exemplo, o LH (hormônio luteinizante) e o FSH (hormônio folículo estimulante) que estimulam o ovário, causando, nesse órgão, secreção estimulada.
A secreção estimulada é aquela que resulta de variações na corrente sangüínea de um metabolismo ou de um hormônio trófico.
Um caso de variação de metabolismo se pode citar é variações na concentração de cálcio no sangue. Uma diminuição na concentração de cálcio causa um estímulo nas glândulas paratireóideas as quais secretam PPH (hormônio paratireóideo). Esse hormônio causa um aumento na mobilização de cálcio dos ossos para o sangue o que causa elevação na concentração de Ca++. O estímulo na glândula tem a função de normalizar o próprio sinalizador.

Sistema de feedback (retroação)

Para entender esse mecanismo de regulação é necessário saber primeiramente o significado da palavra feedback. Sabe-se que toda ação tem um efeito. Quando esse efeito tem influência na própria ação que o causou diz-se que houve feedback. Esse feedback pode ser positivo ou negativo. É positivo quando o efeito tem uma influência estimulante sobre a causa (ação) e negativo quando a influência é inibidora.
Toma-se como exemplo novamente o caso do cálcio : supondo que houve um aumento na sua concentração provocado pelo PPH. Deve haver agora uma inibição de sua secreção para que haja uma inibição da mobilização de cálcio o que fará com que ele se mantenha em taxas normais. O próprio aumento na concentração de cálcio inibe a secreção do hormônio, isso é o que denomina-se feedback negativo.
Esse feedback foi provocado no caso por metabolismo circulante, mas ele pode ser ainda provocado por hormônios tróficos. Vale salientar que o feedback só acontece com a secreção estimulada e nunca com a basal.
A glândula tireóide, que secreta T3 e T4, depende do TSH (hormônio tireotrófico) vindo da adeno-hipófise que por sua vez depende do hipotálamo o qual libera TRH. A liberação de TRH provoca a liberação de TSH que é trófico (estimulante) à tireóide. A tireóide produz T3 e T4 que fazem efeito de feedback negativo em relação à adeno-hipófise, na produção de TSH, e ao hipotálamo, na produção de TRH. Esse caso é o de feedback provocado por secreção estimulada por hormônios tróficos.
O feedback também pode ser simples ou complexo. Simples quando a ação é na própria glândula e complexo quando há uma glândula intermediária.
A maioria dos sistemas de feedback no organismo humano são de feedback negativo mas há também o feedback positivo ao qual se dá como exemplo típico a ovulação. A hipófise produz LH que estimula o ovário que por sua vez produz estradiol e progesterona. Para que aconteça a ovulação é necessário um elevado nível de LH porque ele rompe no ovário o folículo para liberar o ovócito




Reflexo neuroendócrino

Reflexo neuroendócrino é a capacidade através do sistema nervoso regular a concentração de um hormônio no sangue.
Por exemplo a secreção de oxitocina. Sabe-se que a oxitocina é secretada pela parte posterior da glândula hipófise. É produzida pelo hipotálamo mas é um hormônio armazenado e secretado pela neuro-hipófise e tem a função de ejetar o leite da mama quando a mãe está amamentando.
Esse reflexo se dá da seguinte maneira : a sucção da criança funciona como estímulo nos receptores táteis que existem em abundância no mamilo e que são responsáveis pelo desencadeamento do reflexo que promoverá a liberação de oxitocina pela neuro-hipófise. O estímulo é transmitido através da medula dos receptores até o hopotálamo, que dá o sinal à neuro-hipófise . Dado o sinal o hormônio cai no sangue e chega até as mamas onde vai promover a contração das células mioepiteliais presentes nas glândulas mamárias, ocorrendo, assim, a ejeção do leite. Em mulheres em período de lactação, estímulos emocionais e sexuais também podem provocar a liberação de oxitocina, fazendo com que o leite brote dos mamilos. Esse reflexo é dito neuroendócrino exatamente porque envolve o sistema nervoso e sistema endócrino.

Ritmo endócrino

Todas as funções do organismo apresentam um ritmo e a função endócrina não poderia ser diferente. As glândulas endócrinas secretam hormônios de forma rítmica e esse ritmo é pulsátil. A interação da secreção e metabolismo dos hormônios faz com que suas concentrações cresçam e decresçam ritmicamente e é isso que caracteriza o pulso. O sistema nervoso é que regula o ritmo o que significa que não deixa de ser um mecanismo neuroendócrino. Os hormônios se caracterizam por esses ritmo pois cada um possui um ritmo diferente. Pode ser um ritmo por dia, ritmo ciclodiano, ou vários pulsos por dia, ritmo ultradiano. Num gráfico da concentração hormonal pelo tempo observa-se aumentos na concentração seguidos de diminuições se caracterizando o pulso. É necessário fazer um estudo detalhado para se calcular o número de pulsos porque ao medir as concentrações dos hormônios uma diferença pode não ser real e sim por falhas no próprio método. Tem que se ver as diferenças que se repetem periodicamente.
Num tratamento hormonal tem que se considerar o pulso porque as células-alvo "entendem" o código de pulso, ou seja, eles captam a freqüência e a amplitude do pulso com que o hormônio é secretas. Assim se faz necessário simular o ritmo para que tenhamos um efeito satisfatório sendo preciso geralmente várias doses do hormônio.