Síndrome de Guillain-Barré

Descrita inicialmente em 1834, esta doença ocorre em todas as partes do mundo, em qualquer época do ano, e afeta adultos e crianças, homens e mulheres, independentemente da classe social e dos hábitos de vida. A cada ano, aparece, em média, um caso para cada 100.000 habitantes.

Cerca de 60% dos pacientes relatam uma infecção viral, principalmente uma gripe, 1 a 3 semanas antes da instalação dos sintomas neurológicos - o que levou à crença que esta síndrome se devesse a "um resfriado mal curado". A causa específica da doença permanece desconhecida, embora a teoria atual seja baseada em uma resposta auto-imune. Isto significa que o paciente produz anticorpos contra proteínas de seus próprios nervos periféricos.

O sintoma inicial da Síndrome de Guillain-Barré é a fraqueza muscular das extremidades dos membros. Alguns pacientes relatam também formigamento e queimação nos membros, mas isto é raro. Em seguida, a fraqueza muscular evolui para toda a musculatura, sendo então encontradas complicações como a dificuldade para respirar devido ao acometimento da musculatura envolvida na respiração. Outros sintomas estão associados com a fraqueza dos múculos da face e do pescoço, mas deve ser lembrado que os múculos não estão afetados nesta doença - são os nervos que se encontram alterados e portanto os músculos não podem funcionar adequadamente. Pode tambem ser observado acometimento de outros nervos, chamados autonômicos, responsáveis por funções viscerais tais como função cardíaca, manutneção da pressão arterial, da sudorese, do contrôle urinário etc.

O diagnóstico da doença depende da história do paciente, do exame clínico e neurológico completo e do exame do líquor que mostra um aumento na quantidade de proteínas com um número relativamente baixo de células. O diagnóstico diferencial inclui várias outras doenças que afetam de forma rápida e progressiva o funcionamento dos nervos periféricos. Dentre estas, envenenamento por substâncias tóxicas e botulismo são as principais.

O tratamento da doença inclui sempre internação imediata do paciente, devido ao risco iminente de parada respiratória. Nem todos os pacientes evoluem com insuficiência respiratória, mas os pacientes não podem ser tratados em casa devido à velocidade com a qual uma complicação desta grandeza possa ocorrer. Os pacientes devem ser internados em unidades especiais, com enfermagem eficiente e preparada, e com médicos de plantão que possam proceder à assistência respiratória quando necessário.

Os pacientes internados podem ser alimentados normalmente com dietas leves e líquidos. Alguns pacientes apresentam dificuldade para deglutir e devem ser mantidos com hidratação endovenosa e alimentação por sonda nasogástrica. Fisioterapia instituída por uma equipe especializada é de grande importância para a recuperação do paciente, mas esta só deve ser instituída após a regressão do quadro inflamatório agudo que afetou os nervos periféricos. O paciente deve estar sempre confortável, mudando de posição com ajuda da enfermagem, e recebendo apôio psicológico por familiares e amigos. Visitas em excesso apenas cansam ainda mais o paciente que se encontra fraco e debilitado, por este motivo muitas vezes o paciente encontra-se internado com restrição de visitantes.

O tratamento clínico com corticosteróides, embora amplamente utilizado, é de eficácia duvidosa: alguns pacientes apresentam rápida melhora com o uso de corticóides, enquanto outros pacientes não se beneficiam com esta terapia.

Um estudo recente feito na Holanda mostrou que o uso de gamaglobulina endovenosa por cinco dias consecutivos foi benéfico para muitos pacientes. Este tratamento não é ainda usado de rotina pois ainda não foi obtida confirmação deste resultado em outros centros clínicos.

O tratamento mais eficiente para regressão dos sintomas é a plasmaferese. Estudos feitos em diferentes centros clínicos no mundo mostram que os pacientes que mais se beneficiam com a plasmaferese são os pacientes jovens, tratados nas duas primeiras semanas do diagnóstico de Síndrome de Guillain-Barré.

A recuperação plena do paciente costuma requerer 6 meses a 2 anos. Os nervos afetados apenas muito lentamente voltam a ter sua função normal, e alguns nervos estarão irremediavelmente danificados. Cerca de 97% dos pacientes evoluem relativamente bem da doença. Cerca de 2% dos pacientes que apresentaram Síndrome de Guillain-Barré uma vez, apresentarão a mesma doença em outra época de suas vidas