Febre Reumática

 

A Febre Reumática é uma doença inflamatória que pode ocorrer como sequela tardia não supurativa de infecções causadas pelo Estreptococos do grupo A como faringites, amigdalites, otites e escarlatina. Pode envolver vários órgãos e/ou sistemas, principalmente o coração, as articulações, a pele e o sistema nervoso central.

É mais comum entre os 5 e os 15 anos, época em que a infecção estreptocóccica em epidemias é de cerca de 3 %. Vários fatores ambientais podem influenciar em sua incidência como: baixo nível sócio-econômico, umidade e principalmente o agrupamento de pessoas.
Em pacientes que já tiveram FR, a taxa de recurrência é maior, variando entre 5 e 50 %, de acordo com a virulência do germe infectante. A recorrência é mais comum em pacientes que tiveram cardite reumática do que naqueles que escaparam do acometimento cardíaco em ataques anteriores.

As lesões da FR são disseminadas em todo o corpo, com especial predileção pelos tecidos conjuntivos. As alterações ocorrem em 3 fases sucessivas: a edematosa degenerativa, a proliferativa e a cicatricial. Pode ocorrer num mesmo local agressões recentes junto a outras mais antigas.

O quadro clínico é variável na dependência dos sistemas do organismo acometidos.

T. Duckett Jones adotou cinco achados clínicos que chamou de "critérios maiores" para o diagnóstico, modificado pela American Heart Association em 1984: cardite, poliartrite, coréia, nódulos subcutâneos e eritema marginatum.

Explicando o envolvimento dos órgãos ou sistemas:

Coração: manifesta-se pela presença de sopros (não existentes anteriormente), pericardite, aumento do tamanho do coração e insuficiência cardíaca congestiva.

Articulações: pode variar de dor articular (artralgia) a artrite (inflamação da articulação) com vermelhidão, calor local, inchaço e impotência funcional. São acometidos mais freqüentemente os tornozelos, joelhos, punhos e cotovelos. O acometimento articular ganha o termo de poliartrite migratória (sucessão de aparecimento dos sintomas nas juntas referendadas).

Sistema Nervoso: chamada Coréia de Sydenham's caracterizada por rápidos movimentos involuntários mais evidenciados nas extremidades e na face, fraqueza muscular, labilidade emocional e alteração da fala. É manifestação tardia da FR e, quando ocorre, as outras manifestações podem não estar mais presentes. Eventualmente é manifestação única da FR. Os movimentos são abruptos, arrítmicos e intencionais. Desaparecem durante o sono, mas ocorrem no repouso e junto com os movimentos voluntários. São mais expressivos nas mãos e na face ( caretas ).

Pele: os nódulos subcutâneos variam de alguns milímetros até cerca de 2 cm sem apresentar sinais inflamatórios. Geralmente aparecem nas superfícies extensoras dos joelhos, tornozelos, punhos, região occiptal e processos espinhosos das vértebras lombares.

O eritema marginatum é uma lesão em forma de máculas ou pápulas avermelhadas variáveis no seu tamanho e que aparecem mais freqüentemente no tronco, extremidades proximais dos membros e face. Possui também a característica de migrar de um lugar a outro.

Outros achados freqüentemente presentes mas não específicos foram designados como "critérios menores" e são eles: artralgia, febre, história pregressa de doença cardíaca reumática ou mesmo febre reumática, e alguns achados laboratoriais e eletrocardiográficos ( aumento da velocidade de hemossedimentação sangüínea, aumento do espaço PR no eletro, aumento do número de leucócitos, proteína C reativa, anti-estreptolisina O, anticorpos específicos anti-estreptococos e culturas positivas). O Estreptococo associado a doença é o do grupo A.

A presença de 2 critérios maiores ou 1 maior e 2 menores é altamente sugestiva da presença de Febre Reumática, principalmente se há história prévia de infecção estreptocóccica.

Note que para o diagnóstico são mencionados os critérios, mas só um médico poderá através do exame clínico valorizar os achados e concluir sobre o diagnóstico.

O curso da doença é muito variável e no início é imprevisível. De forma geral, 75 % cessam em 6 semanas, 30 % em 12 semanas e menos de 5 % persistem por mais de 6 meses. Esses últimos sintomas se devem geralmente a Coréia prolongada ou cardite grave, intratável.

Não existe cura específica para a FR e nenhum método conhecido pode alterar o curso da doença.

O tratamento visa prevenir novos ataques e, através de medidas de suporte reduzir a mortalidade e morbidade da doença.
É importante o repouso no leito, principalmente nas formas de cardite ou nos casos de artrite importante visando diminuir a dor.
Para o tratamento da infecção estreptocóccica o antibiótico de escolha é a Penicilina, outras drogas usadas são são os analgésicos e antiinflamatórios como a aspirina e os corticóides.
Na forma coreica podem ser usados tranquilizantes e barbitúricos.

A profilaxia da Febre Reumática deve ser contínua com o uso de Penicilina em injeção mensal ou de 3 em 3 semanas, principalmente nos pacientes com maior risco de recidiva, isto é, os com cardite, menos de 3 anos do último ataque ou nos pacientes muito jovens ou expostos ao contato com outras crianças.
A idade de 18 anos seria o marco do término da profilaxia. Os maiores de 18 que desenvolvem a FR sem cardite devem receber a profilaxia por pelo menos cinco anos