AIDS

 

 

Isolamento e denominação do vírus

A AIDS (Acquired Immunodeficency Syndrome) foi reconhecida como entidade clínica em 1981. Em maio de 1983, Jean Luc Montaignier, na França descreveu um vírus da família dos retrovírus, que foi isolado de um paciente com AIDS e o denominou LAV (Lymphadenopathy Associated Virus). Em 1984, Robert Gallo, nos EUA, descreveu o HTLV III (Human Lymphocitropic Virus III), como o agente da doença.

Já em 1986 a Organização Mundial de Saúde (OMS) unificou a nomenclatura e o vírus começou a ser denominado como HIV (Human Immunodeficiency Virus).

Onde é encontrado? Onde já foi isolado? Como é transmitido o vírus? Quem é acometido? Qual a faixa de idade? É uma doença fatal?

Os primeiros casos de AIDS conhecidos e confirmados foram descritos em meados de 1981 em Los Angeles, Califórnia. Em um mês foram descritos casos de Pneumonia por Pneumocystis carinii (um protozoário) em jovens homossexuais masculinos, 26 casos de Sarcoma de Kaposi (um tipo de câncer responsável por manifestações dermatológicas nos pacientes, acometendo 20% dos casos nos adultos) em homens homossexuais em Nova York e na Califórnia.

A AIDS possui distribuição universal, tendo já sido descrita em todos os continentes, ocorrendo em maior número nos EUA, Europa Ocidental, África Central, Brasil e Haiti. Calcula-se que, no mundo, haja milhões de pessoas infectadas pelo vírus HIV. Alguns destes indivíduos poderão desenvolver a doença num período de incubação de 2 a 7 anos, em média, porém existem casos com evolução de até 10 anos sem apresentar até o momento qualquer sintoma.

Na América do Norte, Europa e Brasil a doença, mais comumente envolve adultos homossexuais e bissexuais masculinos, bem como viciados em drogas intravenosas ou pessoas que receberam transfusão de sangue ou derivados contaminados (caso dos hemofílicos).

Na África e Haiti há predomínio de mulheres doentes, e a transmissão ocorre basicamente via sexual, devido a grande promiscuidade heterossexual freqüente nestas regiões.

O HIV tem sido isolado no sangue humano, sêmem, medula óssea, lágrima, saliva, urina, líquor, linfonodos (gânglios), fezes, tecido cerebral, secreção vaginal e leite materno.

Os casos até hoje descritos da doença foram transmitidos por contato sexual, uso de seringas ou agulhas não esterilizadas e contaminadas pelo vírus, sangue ou seus produtos contaminados, placenta, canal de parto ou leite materno contaminados.

Recentemente ( julho/97 ) foi descrito caso isolado de contaminação através da saliva, durante um beijo prolongado. Neste caso, foi detectado que tanto a contaminada como o portador do vírus HIV, apresentavam doença periodontal condição esta sabidamente sujeita a sangramentos frequentes.

O número de crianças contaminadas vem aumentando, e adquirem o vírus durante a gravidez, pela placenta ou durante o nascimento no canal de parto, através da ruptura das membranas placentárias ou durante o aleitamento materno.

Nos EUA 75 % dos casos pediátricos tinham um ou ambos os pais com AIDS.

No Brasil as transfusões de sangue são o principal meio de transmissão para as crianças.

O contato casual com pessoas infectadas, sintomáticas ou sem sintomas, não tem sido fator de transmissão. Isto inclui: dar as mãos, beber no mesmo copo, ocupar a mesma residência e usar as mesmas roupas que o doente.

Não há evidências documentadas de transmissão por insetos, vacinas e administração de imunoglobulinas (proteínas do sangue) ou albumina humana.

Acomete todas as raças principalmente na faixa etária dos 20 aos 49 anos de idade, nas quais ocorrem 85 % dos casos. No Brasil a relação de contaminação mulher homem já se encontra em 1:2.

É uma doença fatal, uma vez iniciadas as manifestações clínicas a doença evolui para a morte.

Nos EUA, 50 % dos casos sintomáticos falecem aos 18 meses e em 80 % em 36 meses. Recentemente foi descrito um novo tipo de vírus HIV denominado HIV-2, isolado na Europa de pacientes provenientes da África Ocidental. Sua importância epidemiológica no Brasil ainda não foi determinada pois somente casos raros foram aqui identificados. Alguns pacientes com AIDS e sorologia negativa para o HIV devem ser testados para o HIV-2.

Explicando melhor a Transmissão Sexual

O modo predominante de transmissão do vírus no mundo é pelo contato sexual. Vários fatores influenciam a transmissão: o tipo de prática, o grau de infectividade do parceiro, infecções genitais concomitantes, principalmente as que causam ulcerações como o cancro mole, a sífilis e o herpes genital e ainda outras possibilidades.

A transmissão tem sido detectada nas relações vaginais, anais e menos freqüentemente no intercurso oral.

Nos homossexuais está sempre correlacionada com o número de parceiros sexuais e a freqüência da penetração anal.

Nenhuma atividade sexual que envolva sêmem e/ou sangue pode ser considerada sem risco. É importante se ressaltar que nas relações sempre ocorrem microlesões e estas facilitam a penetração do vírus. Muitas transmissões heterossexuais do vírus HIV ocorrem durante a penetração vaginal, embora alguns estudos sugiram que a prática da penetração anal aumente o risco de contaminação do homem para a mulher.

O que o vírus provoca no organismo?

Após a transmissão, o vírus HIV atinge a circulação e vai ligar-se a receptores de superfície do linfócito OKT4 (auxiliar), um tipo de glóbulo branco envolvido na defesa do organismo. O vírus penetra na célula e libera seu RNA (ácido ribonucleico) e através de reações enzimáticas é transcrito para DNA (ácido desoxi-ribonucleico). Alguns desses novos DNA são integrados nos cromossomas da célula do hospedeiro infectado, onde permanecem quiescentes até que a célula infectada seja ativada. O DNA pró-viral é transcrito em RNA viral. As proteínas virais e o RNA são acoplados, formando partículas virais que são eliminadas através da membrana citoplasmática da célula.

Este linfócito agora infectado sofre transformação, com desvio de suas funções normais, terminando por ser destruído. Seu rompimento libera novas cópias do HIV na circulação reiniciando todo o ciclo. A subpopulação de linfócitos T auxiliar (existem outros tipos daí porque podemos denominar de subpopulação) é a responsável pelo desencadeamento de respostas de defesa do organismo (mediada por células - imunocelular) e, também pela ativação de um outro tipo de linfócito chamado B, que é responsável pela resposta de defesa, dita humoral, frente a fungos, bactérias, micobactérias, protozoários e vírus. Portanto, sua diminuição torna o indivíduo susceptível a infecções causadas por estes agentes, que por acometerem um organismo imunodeprimido, são chamadas infecções oportunistas.

Este processo de utilização dos linfócitos pode durar anos, dependendo da carga viral introduzida, subtipo viral, imunidade do hospedeiro e outros fatores não totalmente determinados até o momento. Por este motivo o período de incubação da doença é geralmente muito longo. O HIV é capaz de infectar outras células sanguíneas como outros tipos de linfócitos, macrófagos, monócitos e até mesmo neurônios (células do sistema nervoso).

Como a AIDS se apresenta em relação aos sintomas?

A infecção pelo HIV pode se manifestar desde uma completa ausência de sintomas até uma doença fatal. A AIDS é considerada o estágio final da doença.

Em 1986 o Center for Disease Control dos EUA para tornar compreensível e padronizar, classificou a infecção pelo HIV em quatro categorias, sendo esta classificação aceita e usada em todo mundo.

1. Infecção Aguda

Se define por manifestações semelhantes as da mononucleose infecciosa (febre, dor de garganta, aumento dos gânglios linfáticos - linfoadenopatia, mal-estar, suores, aumento de tamanho do baço, etc...), que podem ocorrer de 2 a 5 semanas após o contágio inicial, com ou sem meningite asséptica (inflamação de membranas do cérebro) e associada a soroconversão do anticorpo HIV. Esta soroconversão ocorre 6 a 12 semanas após a infecção, na maioria dos casos.

2. Infecção assintomática

Neste grupo encontram-se as pessoas portadoras do HIV e com sorologia positiva. Sabe-se que atualmente 100 % destas pessoas desenvolverão AIDS. Testes de laboratório podem mostrar redução no número de linfócitos auxiliares (OKT4) ou outras alterações demonstrando infectividade viral.

3. Linfadenopatia generalizada e persistente

Defini-se pela presença de gânglios (linfonodos) palpáveis com aproximadamente 1 cm de diâmetro, em duas ou mais regiões extra-inguinais (virilha), persistindo por mais de 3 meses e na ausência de outras doenças concomitantes. Nesta fase os testes imunológicos estão alterados e o paciente é soropositivo.

4. Incluem-se aqui os pacientes com outras manifestações clínicas causadas pelo HIV. Estas são subdivididas em 7 subgrupos.

4 a . - Doença constitucional

- definida pela presença de um ou mais dos seguintes sintomas: febre persistente por mais de um mês, perda involuntária de peso de mais de 10 % ou diarréia por mais de 1 mês sem outras causas concomitantes.

4 b . - Doença neurológica

- definida como uma ou mais das seguintes manifestações: demência, mielopatia (doença da medula espinhal) ou neuropatia (doença do sistema nervoso) periférica na ausência de outras doenças.

4 c1. - Doença sintomática ou invasiva causada por, pelo menos, uma das doze doenças oportunistas

- definida como pneumonia por Pneumocystis carinii; criptosporidiose crônica; toxoplasmose; estrongiloidíase extra-intestinal; isosporíase; candidíase (esofásica, brônquica ou pulmonar), criptococose; histoplasmose; infecção por micobactérias atípicas, como Mycobacterium avium e Mycobacterium kansasii; citomegalovirose; infecção muco-cutânea, crônica ou disseminada, pelo vírus Herpes simples; e leucoencefalopatia multifocal progressiva.

4 c2. - Doença sintomática ou invasiva causada por uma das seis outras doenças específicas

- leucoplasia pilosa oral; Herpes zoster, localizado ou disseminado; bacteremia recorrente por Sallmonelas sp; nocardiose; tuberculose; candidíase oral.

4 d . - Neoplasisa secundárias

- diagnóstico de uma ou mais neoplasias associadas com infecção pelo HIV, pelo menos moderadamente indicativa de um defeito na imunidade celular; Sarcoma de Kaposi; linfoma não-Hodgkin (linfoma de células com núcleo não clivado); Sarcoma imunoblástico ou linfoma primário do cérebro.

4 e . - Outras condições de infecção HIV

- achados clínicos ou doenças não classificadas acima que possam ser atribuídos à infecção pelo HIV e indicativos de um defeito na imunidade celular. Incluem-se neste quadro pneumonite intersticial linfóide crônica, sintomas constitucionais outros, bem como doenças infecciosas e neoplásicas não relacionadas acima.

Como saber se estou contaminado(a)?

O diagnóstico de AIDS no adulto e na criança deve levar em conta os dados clínicos, epidemiológicos e posterior confirmação laboratorial. A contaminação pelo retrovírus HIV é uma infecção na qual o vírus subsiste juntamente com a presença do anticorpo no indivíduo infectado. Na prática, a pesquisa de anticorpos no soro dos pacientes é o método mundialmente empregado para a detecção de indivíduos assintomáticos ou sintomáticos infectados pelo vírus. Diversas técnicas laboratoriais são empregadas, e as mais importantes são:

Ensaio Imunoenzimático (ELISA)

- É um teste cuja sensibilidade varia com o fabricante; porém, de um modo geral, apresenta índices superiores a 94%. Apresenta uma especificidade menor, sendo relativamente frequente os resultados falso-positivos. A realização do exame em duas amostras do mesmo paciente diminui a probabilidade desses resultados. Este é o método usado para triagem de doadores de sangue e detecção de indivíduos infectados sendo de rápida realização.

Sempre um resultado negativo deve ser repetido após 3 a 6 meses, pois existe um hiato imunológico neste período em que se pode estar contaminado, com um teste ELISA negativo.

Técnica de Western Blot

- Utiliza eletroforese em gel de poliacrilamida e antígenos virais intracelulares. É altamente sensível e específico, muito mais caro e por este motivo só sendo realizado para os casos positivos para o teste de ELISA, que necessitem confirmação da positividade.

Como poderei evitá-la?

Por ser doença transmissível e vir crescendo em dimensões alarmantes é uma importante preocupação em saúde pública.

As comunidades precisam estar informadas sobre a AIDS com a educação sexual dos jovens e esclarecimento de medidas que reduzem o risco de infecção pelo HIV nos grupos de maior incidência (homossexuais, bissexuais, viciados em drogas intravenosas, hemofílicos e heterossexuais promíscuos) e principalmente a conscientização dos indivíduos portadores de infecção pelo HIV são os principais objetivos para deter esta escalada assustadora.

As medidas adotadas para reduzir o risco são:

1. Evitar promiscuidade sexual, restringindo o número de parceiros sexuais ao menor possível (ideal um), evitando parceiros desconhecidos ou suspeitos de estarem infectados.

2. Usar proteção mecânica (preservativo - camisinha) durante o ato sexual reduz bastante a exposição ao vírus, devendo ser desprezado após o uso.

3. Evitar práticas sexuais de maior risco de contaminação (anal).

4. Não usar tóxico (nunca em grupo), e para os dependentes usar agulhas e seringas individuais e descartáveis.

5. Para reduzir o número de infecções por transfusão, é obrigatória a realização de testes anti-HIV para todas as doações nos bancos de sangue. Pré-selecionar doadores, priorizando familiares e pessoas conhecidas pelos pacientes, que se encontrem fora dos grupos de risco, aliando-se técnicas para inativação do vírus no sangue e seus produtos. Os mesmos cuidados devem ser observados para os doadores de órgãos.

Como posso orientar indivíduos contaminados?

Além das medidas recomendadas para prevenção, os indivíduos já infectados devem:

1. Não doar sangue ou órgãos em hipótese alguma

2. Gestantes infectadas devem realizar cesariana

3. No filho de mãe infectada o aleitamento materno está contraindicado

4. Não se automedicar

5. Conservar objetos de uso pessoal separados (por exemplo - escova de dentes e aparelho de barbear)

6. Dormir e alimentar-se adequadamente

7. Diante de qualquer dúvida ou sintoma, procure o seu médico.

Como orientar indivíduos com AIDS?

1. Observar as medidas descritas acima

2. Evitar contatos com animais (aves, cães, gatos e etc.)

3. Evitar engravidar

4. Tomar as medicações prescritas nos horários e seguir as orientações médicas

Quais as formas de tratamento existentes?

Desde a identificação do HIV, diversas drogas vem sendo testadas quanto a sua atividade antiviral especifica. Atualmente são usados coquetéis (associação de mais de um medicamento ) de drogas chamadas de anti-retrovirais com resultados satisfatórios.

O mecanismo de ação medicamentosa busca interferir no ciclo viral, impedindo a entrada do vírus na célula (absorção e penetração), impedindo sua replicação e na eliminação celular do vírus. Alguns já estão sendo testados.

Até o momento não há vacina disponível.

Outra forma de terapêutica usada é o combate medicamentoso às infecções oportunistas adquiridas por estes pacientes. Não é específica para a AIDS, mas contra os agentes causadores das infecções. Terapias alternativas também são descritas, mas fogem ao escopo deste informativo.

 

ÚLTIMAS DESCOBERTAS